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Baladas e Cantares de Hilda

Fui feliz nessa tarde de domingo ao encontrar dois livros de Hilda Hilst, autora que considero predileta atualmente. A identificação aconteceu imediatamente quando folheei poucas páginas e li alguns poemas em pé, em meio ao barulho da livraria. No livro Baladas, lançado pela editora Globo, estão reunidos os três primeiros livros de Hilda, que os escreveu quando vivia os seus vinte e poucos anos e talvez por isso, a minha identificação. O livro tem também ilustrações da edição original feitas por Darcy Penteado e Clóvis Graciano.

O livro Cantares reúne dois livros feitos com uma década de intervalo de tempo (Cantares de perda e predileção – 1983 e Cantares do sem nome e de partidas – 1995). Os poemas são motivados por várias cenas de amor, as quais, diferentemente das cenas de amor e romances de Baladas, não são nem um pouco idealizados, mas o ódio e o embate estão presentes com a beleza da escrita de Hilda.

Foi muito bom poder ter lido os poemas dela hoje. Parecia que ela dizia exatamente o que eu sentia.

XLIII

Ai que distância

Meu Ódio-Amor

Que dores

Que cintilâncias

De pena.

Tão ao meu lado

Te penso

No entanto

Tão afastado

 

Como se água ficasse

A um dedo da minha boca

E todo o deserto à volta

Me segurasse.

 

Tão triste e tão à vontade

Neste meu sol de martírios

 

Como se o corpo soubesse

Desses caminhos da sede

Porque nasceu conhecendo

Da paixão seu descaminho

 

E brilhos no teu sadismo

E perdição na minha cara.

Que coloridos espinhos

Terás

 

Para a tua dura saudade.

Que tempestades de sede

Nos areais da procura

Quando saíres à caça

De quem te amou. De mim.

À caça do NUNCA MAIS.

 

Hilda Hilst – Cantares de Perda e de Predileção (1983)

III

Naquele momento

o riso acabou

e veio o espanto

e do meu choro

o desentendimento

e das mãos unidas

veio o tremor dos dedos

e da vontade de vida

veio o medo.

 

Naquele momento

veio de ti o silêncio

e o pranto de todos os homens

brotou nos teus olhos translúcidos

e os meus se afastaram dos teus

e dos braços compridos

veio o curto adeus.

 

Naquele momento

o mundo parou

e das distâncias

vieram águas

e o barulho do mar.

E do amor

veio o grande sofrimento.

 

E nada restou

das infinitas coisas pressentidas

das promessas em chama.

Nada.

 

Hilda Hilst – Balada de Alzira (1951)


Na foto, uma das imagens do livro Baladas.

“think of me as a train goes by…”

Dizer

Às vezes dizer as coisas não é tão fácil assim…

Quando eu estiver com mais ânimo eu publico o próximo post. Por enquanto esse vídeo diz por mim.

“Wait. Am I supposed to say what I actually feel?”